A origem do termo Mafra continua envolta em mistério, sabendo-se apenas que evoluiu de Mafara (1189), Malfora (1201) e Mafora (1288). A História do Concelho de Mafra é uma longa viagem no tempo. Desde o paleolítico, guarda memórias de invasões, conquistas e reconquistas. Conta histórias de reis e rainhas, das suas promessas, dos seus passeios e fugas apressadas.
A Pré – História Vestígios Arqueológicos sugerem que o povoado hoje denominado por Mafra foi habitado pelo menos desde o Neolítico. No lugar de Seixosa, Freguesia da Encarnação foram encontrados vestígios arqueológicos do período paleolítico , que indicam uma das mais antigas presenças humanas na Europa. Um outro exemplo da ocupação do litoral do concelho durante a pré-história é o concheiro da praia de São Julião, ocupado por comunidades mesolíticas. Este concheiro permitiu documentar o tipo de alimentação e de recursos do homem em 700 a.c.
A Ocupação Romana Lápides, aras, sepulturas, moedas, tulhas, cerâmicas e vidros da época romana têm vindo a ser encontradas em quase todas as freguesias do concelho. Outro dos vestígios é a via romana que ligava Sintra a Peniche, atravessando o Concelho de Mafra, da qual ainda se conservam partes do troço. Em Cheleiros e na Carvoeira encontram-se duas pontes que se julga terem sido construídas pelos romanos.
A Época Medieval A ocupação visigótica no concelho a partir do século V, até à chegada dos muçulmanos em 711, poucos vestígios deixou. Desta época apenas se encontrou uma lápide, hoje no exterior da igreja matriz de Cheleiros, um friso em Alcainça e ainda um tímpano paleocristão adaptado a um banco de jardim que se encontra na Quinta da Corredoura, em Mafra. Dos árabes também não restam muitos vestígios ou documentação, supõem-se apenas que algumas das actuais igrejas tenham sido mesquitas. É o caso da Igreja de Santo André, da Igreja matriz de Cheleiros e do Santuário da Serra do Socorro.
A Arquitectura Manuelina A partir da reconquista cristã, e com a doação de foral pelo bispo de Silves D. Nicolau à Vila de Mafra em 1189 inicia-se uma nova etapa da história do concelho. Um dos reinados que mais influências deixou na arquitectura religiosa foi o de D. Manuel. O estilo Manuelino está presente em muitas igrejas. Com a reforma Manuelina, os concelhos que receberam foral foram obrigados a construir um pelourinho. O fuste do pelourinho de Cheleiros pode observar-se no cruzeiro do adro da Igreja matriz, assim como o de Enxara dos Cavaleiros. O de Mafra encontra-se defronte do Museu Municipal.
O Convento de Mafra O Convento de Mafra é sem dúvida uma das maiores obras monumentais do mundo inteiro. D. João V prometeu construí-lo caso sua esposa tivesse descendência. Composto de convento e palácio, foi iniciado em 1717 e terminado em 1744. Tem 114 sinos, dos quais 48 formam um carrilhão de quatro oitavas. A maior parte do edifício é ocupada pelo extinto Convento. Pode ainda observar-se a Enfermaria dosFrades original e uma fiel reconstituição de algumas celas monásticas, seguidas do núcleo de Arte Sacra, para além de obras realizadas na Escola de Escultura de Mafra.
A Basílica Não existe em Portugal melhor colecção de estátuas italianas do segundo quartel do século VIII nem no mundo um conjunto sonoro de seis órgãos, para os quais possui partituras que só aqui podem ser executadas. No total a Basílica possui 11 capelas, com 450 esculturas em mármores, 45 tribunas e é servida por 18 portas. Todas as cerimónias da basílica eram acompanhadas de canto gregoriano. D. João V, apreciador da mesma arte, reunia-se com frequência com os frades, chegando a cantar com eles no coro da Basílica.
Os Carrilhões Foram encomendados por D. João V. e são considerados como dos melhores do mundo , tocam valsas e contradanças. Têm em conjunto 92 sinos e pesam cerca de 217 toneladas. A forte ligação do palácio à música mantém-se até hoje pelas diversas actividades musicais que promove, como o Festival Internacional de música e os Ciclos Internacionais de Carrilhão.
A Biblioteca A maior parte dos livros foram encomendados por D. João V aos melhores livreiros europeus, e versam temas diversos como Direito Civil e Eclesiástico, Medicina ou Física Experimental. A boa preservação destes cerca de 38000 exemplares, deve-se aos morcegos que aqui habitam, e que não permitem que as traças destruam as obras.
Os primeiros Pára-Raios D. Joaquim de Assunpção Velho, sócio da Real Academia das Ciências de Lisboa, pediu licença a D. José I para instalar 17 pára-raios por todo o edifício, de forma a evitar mais estragos provocados pelas trovoadas que por várias vezes tinham danificado o Monumento. Tornou-se, assim, o Palácio de Mafra, no primeiro edifício em Portugal a utilizar um "receptor" de raios.
A Tapada Real de Mafra A Tapada foi na Monarquia um couto de caça real. A numerosa diversidade de espécies permitiu dias de glória aos monarcas portugueses. Galinholas, perdizes, rolas, raposas, veados, gamos e outros animais eram ali abatidos garantindo não só o jantar como a fama de bons atiradores aos nossos soberanos.
Mafra e os militares A partir de 1840 o convento passou a ser ocupado por militares e em 1859 assentaram praça cerca de quatro mil recrutas no Depósito Geral de Recrutas criado por D. Pedro V. De 1848 a1859, e de 1870 a 1873 o Convento alberga o Real Colégio Militar. Em 1887 é criada a escola prática de infantaria e Cavalaria e no ano seguinte é construída na tapada a carreira de tiro, de que passou a ser frequentador o rei D. Carlos. Em 1896 é criada a Escola central de Sargentos. Em 1911 é fundado o depósito de Remonta e Garanhões, que dá lugar em 1950 à escola Militar de Equitação e sete anos mais tarde ao Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos. Hoje continua a funcionar sendo denominado Centro Militar de Educação física e Desportos assim como a Escola Prática de Infantaria.
Ratos gigantes e Túneis Muitas são as lendas em torno do Palácio de Mafra mais ou menos aterradoras. A da existência de ratazanas enormes é a mais popular, embora os subterrâneos do Palácio tenham sido explorados e não deram mostras de serem habitados por ratazanas fora do normal para aquela zona de esgotos. A existência de um túnel que ligaria o convento de Mafra à Ericeira e por onde teria escapado o rei D. Manuel II ao exílio pertence também ao imaginário. Embora o túnel exista não passa da Vila de Mafra, tendo sido construído para escoar os esgotos do Palácio.
A Caranguejola D. Maria Pia, visita frequente do Palácio de Mafra, mandou construir um elevador com acesso do rés-do-chão ao terceiro piso. Considerado o primeiro em Portugal podia transportar até dez pessoas. Embora não hajam registo de acidentes, muito seguro não deveria ser já que lhe chamavam “a caranguejola”.
Iluminação Natalicia do Convento de Mafra
Gonçalo Grenho (adaptado)
Bibliografia consultada:
Art History Encyclopedia - Cd Rom - PowerSource Computer GmbH